sexta-feira, 25 de abril de 2008

A Muda: Chapter III

No dia seguinte acordei cedo. A bem dizer quase não dormi a pensar no sucedido. Mal deram as 9h da manhã, eu ainda em pijama, tocam-me à campainha. Abro a porta e sou imediatamente ofuscado por uma luz fortíssima, só tive tempo de ver um espanador no ar, nem percebi o que a rapariga que estava à minha frente me dizia. Só passados uns segundos compreendi: era a TVI a fazer a reportagem. Como é que estes jornalistas já sabem de tudo? E que raio de ideia é esta de me virem filmar no meu pijama de flanela, ainda por cima com algumas nódoas amareladas de leite e manteiga? Se eu conhecia os jovens em questão? Conhecia pois, desde que se mudaram para cá há uns quatro ou cinco anos. Não senhor, nunca me apercebi de discussões a não ser esta última que acabou em desgraça. Onde poderá estar o fugitivo? Eu sei lá bem, menina! Na minha casa é que não está de certeza e se calhar já abalou para Espanha. Muito obrigada muito obrigada, de nada sempre às ordens e fechei a porta. Quando me vesti e fui espreitar à entrada do prédio para ver a movimentação, deparo-me com a senhora dona Muda rodeada de jornalistas. Em êxtase, toda sorridente e de malinha na axila, discursava entre sons e gestos e relatava o que, de facto, aconteceu. A menina está-me a ouvir? Parece que ficou a olhar para ontem. Pois, está em choque… pudera, também eu fiquei ao deparar-me com aquele circo. Mas quer que lhe conte o resto ou já está a adivinhar? Não? Pois não, claro que não, quem ia pensar que algum dia podia acontecer uma coisa destas cá no prédio?

Bem, voltando à Muda que era o centro das atenções naquela manhã. Lá conseguiu explicar o que tinha acontecido e era nem mais nem menos do que um crime passional. Pelos vistos o Eduardinho, paz à sua alma, era muito amigo de outros jovens e dum em especial. Parece que volta e meia não queria saber do Gustavinho e ala pró passeio com esse outro amigo. Numa noite o Gustavinho estava ali do outro lado da estrada e viu-os entrar cá em casa muitos juntinhos. Olhe, começou a chorar segundo consta. E sabe a menina porque é que se consta alguma coisa? Porque a Muda estava discretamente mais ao fundo da rua a anotar tudo com o seu olho clínico. O Eduardinho tinha um amante e o Gustavinho parece que sofria com isso. Até diz que uma noite a Muda deu com o rapaz deitado nas escadas a chorar baba e ranho e também uma quantidade considerável de álcool. Deixe lá isso, gesticulou a Muda enquanto lhe punha a mão no ombro. A senhora não percebe, terá respondido o Gustavinho. Sei bem o que é ser traída, rematou a muda com um olhar compreensivo enquanto fazia aquele gesto bem elucidativo com a mão em que apenas os dedos indicador e mindinho se mantêm hirtos. O Gustavinho lá se terá levantado, agradecido com um abraço e ido para sua casa. Isto diz a Muda que aconteceu uma semana antes da discussão. Ora, o moço não aguentou mais, lá remoeu naquilo e resolveu cortar o mal pela raiz: atingiu o namorado com cinco jarrões de vidro na cabeça e o outro lá se ficou pelos estilhaços.

Quando acabou de contar toda a verdade sobre aquele homicídio passional, a Muda, toda ela esplendor, inchava de orgulho! Finalmente o seu dia de glória! Anos e anos a vigiar a vida dos outros para agora ter o merecido reconhecimento! Sim, só ela era a detentora da verdade, só ela sabia os motivos que conduziram àquela desgraça e, mais importante, só ela viu o principal suspeito abandonar a cena do crime.

3 comentários:

João disse...

Quem bom, Minhokinha!

A série da Muda está cada vez mais apaixonante.

Queremos mais! Queremos mais! :)


* Boas letras *

GreenHouseSpecial disse...

Ansioso pelo 4º Capitulo ;-)

Al-Qaerva disse...

Cara minhokinha,

Venho por este meio informa-la que colocamos um link para o seu blog no nosso!

Beijocas e continuação de boa escrita***