tu sabes que o papel da literatura não se esgota em criar historinhas de encantar.
Tu sabes que a literatura não é apenas um somatório de palavras.
Tu, pelo contrário, sabes bem distinguir o autor do narrador, o ortónimo do pseudónimo. O intencional do factual. E já escreveste muito, já leste mais ainda... mas se tanto sabes, por que insistes em persistir na ignorância?
Eça foi um criador magistral? Então deves recordar-te da sua máxima, da vontade em querer fazer das suas palavras um motivo sério de reflexão, da sua insistência em apontar o dedo ao que considerava estar mal... fazia-o a brincar, usando a fina ironia como arma de arremesso.
A função do Neo-Realismo português no contexto da censura foi determinante e tu sabes que as palavras de Soeiro Pereira Gomes, Namora, Dionísio e Cardoso Pires (só para citar alguns), mais do que criar sonhos apresentavam a realidade. Nua e crua. Doa a quem doer.
Então, sabendo tudo isto e apoiando e aplaudindo e enfatizando que a literatura tem uma função social e exorcizante... chocas-te com as palavras da Minhoka quando elas voam desgarradas em sincero e necessário protesto. E viras a cara e fechas a porta.
Para quem proclama entre dois versos que sabe muito de literatura, para quem não se cansa de dissertar sobre o seu self-knowledge da vida, para quem já viveu tantos anos no centro de um opulento mundo, para ti que julgas tudo controlar: que pobre que és, que provincianismo que transpiras.
Pois fecha a porta e do mofo não voltes a sair. Já não gosto de ti.
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