sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Meu dedo do meio da mão


O meu umbigo queria rasgar o ventre, aquele lugar berço que almofada o mundo. Queria continuar a fazer de conta que não ouve, que não vê, que não sabe. Não sente.
Deixou de poder sentar-se mais (ainda) na poltrona e levantou-se. Olhou em frente, declarou: Hoje vou ser feliz!

Imune às boas intenções deste mundo e do outro (daquelas que enchem o Inferno) abriu um sorriso que gritava não as suportar. Era para o seu bem, asseguravam-lhe, e o que tem de ser tem muita força… com a leveza de uma ida ao café. Tentava fugir, saltava telhados de perigos obscuros, fintava as rasteiras que despontavam dos pézinhos maldosamente colocados à sua frente, arfava como se estivesse a cortar a meta dos 300 metros em primeiro lugar, mas as boas intenções deste mundo e do outro continuavam coladas a si com os caninos de fora e a baba raivosa dos cães a escorrer-lhes pelo queixo.

De repente uma luz. Deixou de correr. Virou-se para trás e mandou-as foder. Sim, foder, sem tirar nem pôr. Momentânea branca de lirismos e obséquios.

E então voou! As suas asas de papel pousaram-no naquele areal onde os grãos queimam a palma. E tatuam os pés. Sorriu para o Sol. Finalmente!

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