Arriscaria a dividir o bicho bracarense (por regra um animal de pele morena, cabelo naturalmente escuro e alguma abundância de pelugem) em cinco subtipos, todos eles altamente merecedores de estudo mais aprofundado. Assim temos:
1. o parolo assumido;
2. o parolo polido;
3. o mediano;
4. o pseudo;
5. o colorido.
À primeira vista poderão parecer poucas categorias para tanta e variada bicharada, mas uma análise cuidada e exaustiva certamente concluirá que nestas cinco gaiolas há espaço suficiente para todos os animais. Examinemos cada uma destas começando pelo bicho mais abundante na cidade, o que pipoca em cada esquina, deambula pelas praças e faz de domingo o dia do passeio ao centro: o parolo assumido.
1. O parolo assumido, também carinhosamente apelidado de broeiro, neca ou tóne, distingue-se ao longe pela sua atitude despreocupada, ausente de qualquer tipo de preconceito, de quem não tem nada a esconder. É parolo, tem total consciência disso e muito orgulho bafejado a perdigotos de fino e hálito de tremoços. Nem sequer lhe ocorre, portanto, uma possível mudança de status, sendo por isso um dos subtipos mais honestos consigo e com o restante reino animal.
O parolo assumido jovem gosta, antes de mais, do gel. Cabelo irrepreensivelmente lambido e com ar de Cristiano Ronaldo (ídolo de todas as espécies de parolos, venerado na intimidade de cada parola, discutido e aclamado em cada noite de copos), ganga coçada e muito rota, calça justa para salientar aquilo que consideram ser um rabo todo bom, t-shirt preta, colada ao peito e vulgarmente de decote em bico (de onde sobressaem os pelos misturados com os músculos trabalhados e uma corrente de prata à Quaresma) ou camisas aos quadrados metidas para dentro a fazer ver o cinto preto de fivela Far West, Dangerous, e mais recentemente Sexy, bota texana ou sua semelhante que suporta um andar pausado, a armar em engatatão, temperado ocasionalmente com um descarado “ó jeitosa, és boa pa caralho, óbistes?” ou outra pérola do género com que teimam em brindar as fêmeas.
A fêmea do subtipo parolo assumido, por outras palavras, a chamada brejeira, vulgo “labajona” ou mesmo rameira, costuma fazer-se notar imediatamente pelo tom de voz alto acima da média, pronúncia do norte orgulhosamente bem vincada e inúmeros caralhos e fosga-se’s pelo meio. As fêmeas já de uma certa idade optam quase sempre pela madeixa loira a contrastar com a raíz muito preta que emolduram um corte à cogumelo, muitas com franja à Cataratas do Iguaçú, no Inverno não largam o blusão de couro preto largo que pensam fazer conjunto “espectacular” com a saia travada de fazenda pelo joelho, botim preto de biqueira (que é aquela bota que vai até um pouco acima do tornozelo), collant à cor da pele, bolsa de pele-fingida verde ou roxa e laca qb na franja e na poupa que teimam em erguer na testa. Gostam de estar nas portas dos hospitais por qualquer unha partida, enchem os corredores da Segurança Social e atropelam-se nas paragens de autocarro.
A parola assumida jovem é bastante mais complexa porque pode assumir várias formas, desde a já referida rameira pura àquela que se aproxima da parola polida. É normalmente anafada, e se alguma vez teve brilho no rosto foi carcomido pelo característico problema de acne. Regra geral parece que lhe caiu uma garrafa de óleo Fula no cabelo e faz um enorme esforço para se vestir como vê nas novelas: tudo é berrante, tudo é aparentemente fashion, tudo é a menos de 3 euros a peça. A parola assumida jovem sonha em ser como a Floribela e faz do shopping a sua Meca. Para lá se desloca domingo após domingo com as amigas a fim de o percorrer por inteiro no mínimo 27 vezes, sonhar em frente aos modelitos que vê nas montras e consumir o que a magra poupança lhe permite. As tardes de domingo no shopping são, aliás, marca característica dos parolos assumidos, machos e fêmeas, que assim consideram estar na moda.
7 comentários:
De cagar a rir... tive de me conter várias vezes para não me escangalhar na aula!
Está tão bom que queria perguntar o seguinte.... posso coloca-lo no blog da al-qaerva?
Mortinho por conhecer as restantes espécies :D
Impecável descrição. Há espécies similares em Guimarães, a única diferença é que os bonés do parolo assumido sénior são invariavelmente do "Bitória".
P'ras Modalfas e Fábio Lucci's, disfarça-te como os gajos da National Geographic!:) Afinal o vosso trabalho é similar.
Beijinho de saudades. Ansiosa por mais descrições
Nunca imaginei ser possível alcançar tamanha descrição... brilhante!
Ansiosa pelos próximos!
ha ha ha. genial! estavas inspirada, amiga :)
Bem, bem, bem, bem...mau, mau Maria (se preferires)!!! Então mas agora quem adora o Cristiano Ronaldo é "brejeira"??? Pronto, ok, então eu assumo: EU SOU LABAJONA (que é ainda pior)! EU GOSTO MUITO DESSE PUTO,HÃ?! É LINDO E TEM UM RABO TODO BOM (agora, se é só das calças é k eu já n sei, mas DUVIDO!).
M.Jane ( ...COM MUITO GOSTO!!!).
;))
Senhora Dona Mary Jane, mas por quem sois? Se o dito jovem vos apraz quem é Minhokinha para apontar o seu corninho mordaz? Seja feita justiça ao rabiote do rapaz e não nos deixeis cair em tentação! Amén*
Ahahah! Eu vivi 5 anos em Braga e sei bem que todas as espécies de que falas cabem bem nessas 5 gavetas. Eu própria, sei qual me cabe melhor ;).
Texto hilariante, parabéns!
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