terça-feira, 15 de julho de 2008

O meu primeiro quase assalto


11h30 da manhã de Segunda feira: Minhokinha chega ao seu mais recente lar no Palmarejo, nata da elite da Cidade da Praia, carregando uma modesta mochila de couro com o seu ainda mais modesto computador, trabalhos de alunos, coisas de professor e dois saquinhos de compras de mulher que tem necessariamente de ser dona de casa. Ouve um restolhar de passos próximos e, ao virar-se para trás já na suspeita que something was wrong, um puto a menos dum metro de si. Tra bolsa, tra bolsa (tira o saco ou dá cá o saco!)! Minhokinha não queria acreditar! Sabia e apregoava aos sete e oito ventos que era uma questão de tempo, que era no mínimo estranho estar na cidade do crime-porque-sim-porque-nos-apetece e andar imaculada pelas ruas como se não existisse de facto, só sobrevoasse as desgraças alheias! Entoou um repetido Não! Não! Não! Não! enquanto se afastava do catraio e tinha tempo de verificar que o sem vergonha empunhava nada menos do que uma faca de cozinha para executar tal façanha criminosa! E uma faca de cozinha velha e com um ar muito triste, ainda por cima. Uma faquita que nem bifes cortaria com certeza, mas naquele momento virada a si daquela maneira pareceu-lhe uma daquelas côncavas e enormes que as senhoras da Praia Grande do Tarrafal usam para abrir côcos. O puto continuava Tra bolsa tra bolsa e Minhoka, desprotegida, resolve recorrer à técnica de defesa mais primitiva a que normalmente as mulheres recorrem: a goela. Minhoka brada na rua deserta, de obras e andaimes e futuros prédios de luxo: SOCORRO!! SOCORRO!! enquanto se afasta ainda mais da faca de ponta torta e acabada. O puto assusta-se e adverte logo que não vai magoar a Minhokinha, não a vai pisar, vai sim ser misericordioso e deixá-la seguir rastejando por entre os prados como se nada se tivesse passado. Desapareceu na praça do prédio e deixou a Minhokinha a tremer e com medo de voltar a sair de casa.


Não entendo como isto continua a acontecer, escandalosamente ainda à luz do dia e numa zona onde, à partida, já se sabe que existe esta tendência criminosa.
Depois das manifs dos cidadãos, da revolta generalizada, dos assaltos às entidades responsáveis pela segurança da cidade, depois das promessas eleitorais (A nossa primeira prioridade é a segurança), depois de todo o circo que se tem montado em torno do famoso kasu body, cabe perguntar, mas já sem réstea de paciência: PARA QUANDO UMA CIDADE NORMALMENTE SEGURA?

3 comentários:

Por: Catarina Abreu disse...

Assino por baixo. Nesta cidade já é quase uma experiência "di terra" levar com um kassubodi. Se um dia a Minhokinha saísse de Cabo Verde e, mais tarde, se encontrasse com alguém que conheça a cidade da Praia e dissesse que não tinha levado com esse flagelo dos nossos tempos, esta pessoa rolava o queixo até o chão e diria "Credoooo! Isso é como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel!".

Pois assim vai a Praia. Era bom que alguém fizesse algo para nos libertar desse estigma, mas, acima de tudo, desse medo!

Unknown disse...

Minhokinha, não posso acreditar !!!
Imagino o teu sufoco -;(
Sei que é habitual nessa cidade acontecer esse tipo de coisas, mas já começa a ser demais. Espero bem que esse novo elenco governamental tenha na sua agenda de prioridades esse flagelo.

Beijos e não desanimes -;)

Rui Valdiviesso disse...

E o pior é que muita gente já assumiu o kassubodi como uma identidade cultural. Até já há uma marca de roupa com esse nome! É preciso mesmo mudar as mentalidades e assumir que esses assaltos violentos são execráveis e devem ser varridos para sempre da realidade da Praia. (E ao que já ouvi dizer quando por lá andei, até no Mindelo já começaram!).