segunda-feira, 23 de junho de 2008

Para ser grande, Sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a Lua toda

Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Tenho estado a pensar no real valor do Epicurismo e do Estoicismo, movimentos filosóficos concebidos na Grécia clássica dos sofistas por Epicuro e Zenão respectivamente, e que subjazem a esta pérola (mais uma) pessoana. De acordo com o primeiro, devemos usufruir o momento presente sem qualquer outra pre-ocupação, aquilo a que o "Clube dos Poetas Mortos" nos habituou a apelidar de carpe diem, or seize the day. O estoicismo defende a mais completa rejeição da dor, dor física e mental. O indivíduo deve, portanto, passar pela vida (chamo a atenção para a passividade desta expressão) sem permitir que o sofrimento de qualquer espécie o atinja. Deve pautar-se por uma atitude recatada, abnegada, confortavelmente instalado numa poltrona a "ver a vida à distância que ela está".


Sinto este desejo quotidianamente mas nunca lhe consigo dar forma. Como viver sem me envolver? E se, por milagre, até conseguisse esta proeza, de que serviria ter vivido? O gozo da vida está precisamente no risco, no salto sem medo que damos lá das alturas sem ter bem a certeza se vamos cair numa cama elástica, se alguém nos vai agarrar ou se simplesmente nos vamos esborrachar no chão.

Viver constantemente com medo de viver é morrer um bocadinho todos os dias. Sujemos as mãos na vida e encharquemo-nos todos dela!

6 comentários:

Anónimo disse...

Não poderia concordar mais contigo... como um dia alguém me disse: "sabes a música dos Xutos? Aquela «dá um mergulho do mar, dá um mergulho sem olhar para trás...»"! A verdade é que dei esse mergulho e pum... estatelei-me e magoei-me muito, muitas vezes..., mas as vezes em que arrisquei e fui feliz.... compensaram e de que forma!
Se não fossem as "cabeçadas que damos na parede" de certeza que não conseguiríamos valorizar convenientemente as coisas boas!

Uma vez, uma tia, ao ver-me muito muito triste disse: "fico tão feliz por ver que vives intensamente os momentos maus... isso quer dizer que viverás de forma igualmente intensa os momentos bons..." - tinha 15 anos. Na altura não fez muito sentido, mas cada vez a acho mais sábia!

Minhokinha... permites-me o abuso (que isto já vai longo...) de partilhar contigo?

Quase (Luis Fernando Veríssimo)

"Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão, para os fracassos, chance, para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando... Fazendo que planejando... Vivendo que esperando...
Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. Um Bom dia a todos."

GreenHouseSpecial disse...

Ah... voltas no teu melhor ;)

E tu? Sentes-te mais Epicurista ou Estoicista?

Eu sinto-me uma mistura dos dois... uns dias frio e quase imperturbável, noutros despre-ocupado e hedónico com momentos nostálgicos.

Imagino que a filosofia tenha um peso cada vez maior na tua vida... e que seja com vontade de "Sujar as mãos na vida" que enfrentes e vejas o dia seguinte!

Muita força e mega beijoca***

Minhokinha disse...

Cara tia babada,

um abraço apertado pelas tuas palavras. As tuas e as do Veríssimo que enriqueceram as minhas. Sim, concordo que o mergulho no mar tem de ser dado se estamos de pé, na beirinha da onda, a contemplar a sua monumental grandeza!

Beijocas e bons mergulhos**

Minhokinha disse...

Querido AKA, leitor mais assíduo da minhoka,

dias há em que sou epicurista, noutros estoica... em todos o enigma encantador de ser Minhokinha :) A filosofia sempre esteve presente mas a literatura, como diria o Mário, "vamos sempre lá parar. Ah... a literatura, a literatura."

Luz, força and keep the positive vibe*

Unknown disse...

Catarina (tia babada) acabei de ler o teu comentario.Estou sem palavras, sem palavras mesmo. Não sei que dizer. Adorei, adorei muito, mas, as palavras são pequenas para felicitar tanta beleza de alma.
Continua aparecer por aqui -;)
Um grande beijo

Para ti Minhokinho -;) gosto muito de te ler -;)
Beijos

Anónimo disse...

Isabel Maria... apareço sempre! Obrigada... beleza de alma? "Quem diz é quem é..." beijo enorme