sexta-feira, 14 de março de 2008

Sexo, Alcool (Drogas e Rock & Roll?)

Todos nos confessamos a uma mesa de café, a uma esplanada. Outras vezes a um bar de uma discoteca. Todos bebemos quem queremos, todos pedimos o que consumimos. Seja uma Cola Trindade, nacional, mais doce e por isso mas sabi, seja uma Pirate loira importada, a carícia a mel de uma Malta, a fogosidade de um grogue. Há homens que são como a Coca-Cola ®, homens simples e sóbrios, homens que estiveram sempre lá no alto, de pé, vendo outros chegarem, tentarem brilhar e logo desaparecerem. É a fugacidade da ilusão.
Tenho reparado nas bebidas que acompanham as mesas dos homens da Praia. A cerveja ocupa uma posição de destaque no ranking das bebidas alcoólicas mais consumidas. Super Bock, Heineken e Strela. Quem bebe exclusivamente a última não esconde um orgulho no que é nacional, no Batuko, ancas que saracoteam delineadas por um sensual pano di tera, cabelos apanhados em lenços coloridos, saias de algodão que dançam ao vento, olhos escuros de azeviche, sorriso terno e luminoso. A cerveja estrangeira já é para os homens que se consideram da novíssima geração, a geração que louva a miscigenação, a partilha de experiências e culturas. Ocupam os bares da moda, marcam presença nas vernissage e mandam bocas nos blogs. Muitos deles mantêm relacionamentos com mulheres estrangeiras, viajam bastante on e offline, acompanham as notícias do mundo, traçam planos ambiciosos de desenvolvimento nacional. São homens que oscilam nas suas preferências, pois gostam de alternar entre o produto nacional e o estrangeiro. Não esqueçamos que esta reflexão abarca todos os homens que fazem desta a sua cidade e não apenas os cabo-verdianos. E o que dizer dos que ostentam uma Pirate, cerveja loira importada, como se fosse um troféu? Mania da diferença? Mais cedo ou mais tarde todos se deixam levar pelo encanto duma boa e reconfortante Strela-sabor-Kebra-Canela. Está-lhes no sangue, o resto é apenas pirotecnia.
Muitos não abdicam dos copinhos pequenos onde repousa o brilho do grogue. Beber para esquecer ou beber para viver? Há mulheres fogosas, voluptuosas, mulheres-furacão. Há mulheres malagueta, mulheres enguiçadas. Há homens que procuram um meio para lidar com as mulheres no fundo dum copo.
Poucos homens bebem sumos ou refrigerantes. Isso é para as meninas. Masculinidade assombrada? Necessidade de mostrar a sua virilidade? Quando um homem bebe Malta é sinal que está doente. Nesse momento o que mais quer é o balanço de uma rede, um abraço meigo e protector, um cafuné no cabelo e um milhão de beijos.
Quase todos os homens acreditam piamente que não necessitam de qualquer estimulante. Poucos bebem café e dos que bebem são raros os que não ficam satisfeitos. Não conheço um único homem que viva na Cidade da Praia e que, ao chegar (se de facto chega!) um funcionário do Café Sofia, do Dego, do Flor-de-Lis, do 5al da Música, do Cometa, do Só Sabi, do Irish, do Paulino, do Alkimist, peça um café curto ou forte, que não se contente com menos do que um café tirado com brio, espuma a escorrer e a pingar, derradeira, no líquido quente e escuro. O que por aí se esvai nessas máquinas é a vulgaridade da aguinha de lavar chávenas e parece agradar à grande maioria. Escassos ou inexistentes critérios de selecção? O que vier à chávena bebe-se!

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