quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Make (lots of) LOVE not war


Há alguns portugueses, e neste aspecto ignoro se existe alguma semelhança com europeus de outras nações, que têm o péssimo hábito de chamar macacos àquelas pessoas que consideram ser menos civilizadas. Pior do que isto, e mania que me irrita ainda mais do que todas as outras, é usar o mesmo termo para se referirem a pessoas com a cor da pele mais escura ou negra, advertindo prontamente o meu olhar chocado que não são racistas, nada disso. É com carinho que os chamamos de macaquinhos. E sorriem. E continuam a falar do que realmente importa: as taxas de juros, a crise mundial, a falta de dinheiro para o MEO e as futilidades da sempre agitada vida europeia.
Estando nestas considerações cruzei-me com o termo Bonobo num daqueles acasos da vida que mais tarde dão que pensar. Os bonobos são macacos (como os chimpanzés, orangotangos e gorilas) que habitam as florestas do Congo, África central aka berço da humanidade. Foram descobertos por Harold Coolidge em 1928 (cf. Wikipédia), mas só a partir de meados da década de 70 foram estudados no seu habitat natural e em cativeiro.
O bonobo é a espécie mais próxima do ser humano e, de todos os macacos, são os que apresentam maiores semelhanças físicas e comportamentais connosco. Do ponto de vista físico fazem lembrar os nossos antepassados Australopitecos, andam com dois pés, são extremamente inteligentes e alguns dos que foram mantidos em cativeiro chegaram a aprender a linguagem humana. Está o leitor de boca aberta? Então escancare-a mais um bocadinho ao tomar conhecimento que nós (Excelentíssimo Magnânimo Senhor Doutor, Honradíssima e Digníssima Senhora Juíza, Respeitável Engenheiro e Cara Madame) partilhamos 98,4% do mesmo DNA destes… macacos?!?
Ao contrário da sociedade machista e competitiva dos chimpanzés, a sociedade bonobo é pacífica, harmoniosa, matriarca e procura sempre promover a igualdade. Embora machos e fêmeas desempenhem papéis distintos, mas igualmente relevantes, as senhoras carregam consigo um peso social de maior relevo. Elas formam laços estreitos e alianças entre si, o que será talvez um modo de preservarem o seu poder relativamente aos machos que são superiores fisicamente.
Outro aspecto curioso é o facto de se revelarem particularmente devotos da máxima “Make Love not war” herdada dos hippies anos 60. Fazem amor, muito amor e de todas as maneiras possíveis. São extremamente amorosos, demonstrando amiúde o seu carinho e compaixão pelo próximo. Tal como para os humanos, o sexo para os bonobos transcende a mera função reprodutiva, existindo como meio de ligação entre seres, união, troca de energia e prazer. É um dos factores fundamentais que mantém a sociedade unida, pacífica e cooperante. O psicólogo Frans de Waal descreveu-os como pansexuais, pois envolvem-se em encontros heterossexuais, homossexuais e em grupo. Ao contrário de outros macacos (e eu acrescentaria, de alguns homens), os bonobos fazem amor olhando o seu companheiro nos olhos. Quando diferentes grupos se encontram na floresta cumprimentam-se, aproximam-se sexualmente e, em vez de lutar, trocam comida. Da mesma forma, algum conflito no seio da comunidade é resolvido com (a sempre bem-vinda) actividade sexual, carícias no pêlo e troca de comida.
Os chimpanzés machos gostam de se armar com gracinhas machistas para impressionar as fêmeas e podem até ser veementemente persuasivos nas suas demandas. Como resultado desta imposição, a fêmea não tem grande controlo sobre com quem acasala, o que é deveras lamentável. Na sociedade bonobo, os machos são mais educados, não invasivos e não violentos: primeiro pedem, ou perguntam, de forma algo persuasiva mas cordial e esperam pela resposta, conscientes de que a fêmea tem sempre o direito de recusar a proposta.

Posto isto, impõe-se a questão: quem são os verdadeiros macacos do nosso pequeno planeta Terra?


Informações: http://www.bonobo.org/
Foto: Reuters (31.10.2006)

Este texto foi escrito em parceria com http://www.al-qaerva.blogspot.com/ Visitem se querem liberdade p'ra dentro da cabeça!!

1 comentário:

Al-Qaerva disse...

A primeira de muitas... =)

Muito obrigado por enriqueceres o nosso blog... e que o Santiago te dê muitas alegrias pela vida fora!

Liberdade p'ra dentro da cabeça