quarta-feira, 27 de agosto de 2008

“A Grande Arte”, de Rubem Fonseca

Há mais de um ano e meio, Minhokinha deliciava-se numa tertúlia com Francisco José Viegas na Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão. Para além de jornalista e, mais recentemente, director da Casa Pessoa, Viegas é um notável ficcionista e não esconde que o género policial é o seu favorito. Referiu-se a José Cardoso Pires como um dos seus grandes modelos (“A Balada da Praia dos Cães”, “O Delfim”) e quando questionado sobre qual o melhor romance que lera não demorou dois segundos a responder: “A Grande Arte”, de Rubem Fonseca, sem dúvida o romance mais completo e complexo que lhe passara pelas mãos.

Minhokinha encostou-se para trás na cadeira e pensou que se Francisco José Viegas, um escritor cujas tramas ficcionais têm recebido os mais rasgados elogios nos últimos anos, não hesitara em nomear o romance do autor brasileiro como superior é porque este deveria valer mesmo a pena! Abandonou o pequeno bar da Casa das Artes ansiosa por ler Viegas, cujos romances eram ainda para si desconhecidos, e Fonseca. Infrutíferas se revelaram as várias digressões a livrarias e bibliotecas, a maior arte d’ “A Grande Arte” parecia ser a sua raridade. Minhokinha mudou-se entretanto para Cabo Verde onde, logo na primeira Feira do Livro em Fevereiro de 2007, adquiriu “Longe de Manaus”, um policial do autor português que durante umas semanas a manteve presa ao enredo dividido entre o Rio de Janeiro, Manaus, Luanda e até uma breve passagem pela ilha de S. Vicente. Ainda assim, não desistia de encontrar “A Grande Arte”, tendo revirado todas as bibliotecas da Cidade da Praia em busca daquilo que entretanto já se transformara numa preciosidade. E quando já nada fazia prever, quando já nem tinha esperança, Minhokinha descobre um exemplar na nova livraria Nho Eugénio, na Achada de Santo António. Milagre? Recompensa pela paciência e perseverança demonstrada? Ou pure damn luck?
A contracapa avisa: “Mestre absoluto no controlo do ritmo narrativo, Rubem Fonseca gera expectativas e surpresas, pratica a arte de provocar tensões e distensões na narrativa, de a conduzir sem pressa ao clímax desejado.” Leitura-relâmpago viciante e contagiante.
Um homem que rasga um P na face das suas vítimas, um advogado que não se contenta com a verdade aparente, um poderoso louco ou louco poderoso, os segredos do Percor, uma cassete de vídeo perdida e comprometedora, três mulheres que esgotam um homem, prostitutas atrevidas, homossexuais declarados, o boteco do Rio de Janeiro, o amigo chui, o anão Nariz de Ferro, o boliviano Fuentes que só vê dum olho mas mata certeiro como se tivesse dois, Ada – Bebel – Lilibeth, a sacanagem do malandro carioca, a bela arte do manejo da faca.

“Muitos anos antes de Cristo havia na Grécia um poeta, Arquíloco, que dizia: ‘Tenho uma grande arte: eu firo duramente aqueles que me ferem’.”


A Grande Arte, Rubem Fonseca, 1ª ed. 1983 (Campo das Letras: Porto, 2007)

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