quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fechada para balanço

Porque há dias em que é preciso pensar com mais afinco.
Porque há decisões a tomar.
Porque por vezes nos encontramos em encruzilhadas difíceis e não vemos saída.

Breathe and reboot. 

A necessidade de reiniciar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009


"Mas há dias em que a hescritora pensa que nunca encontrará esse amor perfeito e sente-se só. Como lhe recomendaria a avó, toma um comprimido invisível e sente um grande alívio. Além disso, considera-se feliz por ter a coisa mais maravilhosa do mundo: a escrita. Quando a hescritora sofre de solidão, deixa-se acompanhar pelas palavras. (...) Um dos seus entretenimentos favoritos é fazer faltas de ortografia.
A sua palavra preferida é esta:

Vurro

E é assim que escreve o nome da sua profissão:

A hescritora

Sempre que lhe perguntam porque é que escreve o nome da sua própria profissão com agá, ela responde que se considera uma escritora imperfeita, uma hescritora. Ainda tem muito que aprender. Quando tiver escrito dez romances encarará a hipótese de escrever o nome da sua profissão sem agá."

A Hescritora, Cuca Canals

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Oxalá (ainda) te veja

"Já me voltei a apaixonar por algo que me fez perder o interesse por quem estava interessado. O'questrada..."

Oxalá te veja

Tenho dores fechadas em caixinhas,
contra mim, contra ti, contra lá,
contra os dias, que passam a meu lado;
tenho dores fechadas em caixinhas,
contra aqui, contra ali, contra cá,
que me dizem estou aqui,
estamos lá

ah diz-me lá,
aaa diz-me aqui,
oxalá, oxalá te veja ao meu lado ao pé de mim,
ao pé de mim..

tenho dores fechadas em caixinhas,
contra mim, contra ti, contra lá
contra os dias que passam a meu lado;
tenho dores fechadas em caixinhas,
contra aqui, contra ali, contra cá,
mas que me dizem estou aqui,
estamos lá..

aaaa diz-me lá, aa
diz-me aqui,
oxalá, oxalá te veja ao meu lado ao pé de mim,
ao pé de mim,
ah oxalá te veja ao meu lado,
ah oxalá te veja bem aqui,
AI OXALÁ TE VEJA AO MEU LADO AO PÉ DE MIM, AO PÉ DE MIM...



sábado, 16 de maio de 2009

Raiz Reinvented


Ontem ao final do dia, a companhia de dança cabo-verdiana Raiz di Polon ofereceu a um público atento e maravilhado um espectáculo verdadeiramente notável. O mote foi o trabalho desenvolvido num workshop com a coreógrafa portuguesa Clara Andermatt, que decorreu nas duas últimas semanas na Cidade da Praia, e que revelou uns Raiz bem mais moldáveis a novos estímulos do que poderíamos pensar. Sob a égide do Movimento, tema central desta formação intensiva, os Raiz reinventaram-se e dançaram a vida e os momentos pessoais, especiais e intransmissíveis de cada um perante os nossos olhos incrédulos. A vida passa por ti, anunciaram, mas não passa por ti.


E assim, refugiando-se cada um nas suas recordações, nos seus sonhos, pedaços das suas existências, fechando e abrindo os olhos, vendo-se a si e ao mundo, cada um dos elementos do grupo trouxe-se a si e à sua magia para aquele início de noite que, de repente, deixou de ser igual aos outros.


Ao Mano, à Beti, ao Kaká, ao Darosa, ao Zeca, à Susana, à Goreti e ao Lecce a minha vénia! À Clara. Quero ver mais Raiz reinvented!


PS -E um obrigado especial ao nosso Ministério da Educação que, desta vez, resolveu colaborar encorajando a participação de pelo menos um dos seus funcionários neste workshop.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ainda a propósito do Dia da Mãe

Chegou-me às mãos um texto sobre o lado mais difícil da maternidade. Obrigatório ler! A autora elenca os cadilhos de quem tem filhos, recorrendo a várias entrevistas feitas a mamãs de crianças pequenas, e organizando-os (os cadilhos) em seis grandes tipos:

1- Sentimento de culpa;
2- O Inferno são os outros;
3- Não ter liberdade nem tempo para mim;
4- O cansaço pode fazer-nos ver tudo cinzento;
5- Educar não é fácil;
6- A angústia da separação.

Minhokinha assistiu ao encontro destas seis mães na esplanada do Café Sofia, Cidade da Praia, na passada terça-feira.

Meninas, este cafézinho vai ter de ser rápido porque o sacaninha daqui a nada acorda, diz a-que-não-tem-tempo-para-si. Oh, não lhe chames sacaninha..tadinha da criança, adverte a outra (pertencente àquele grupo que todos dizem não suportar: os Outros).

Era um final da manhã solarengo e bem disposto. O vento corria lesto mas o calor, que mais cedo ou mais tarde acaba sempre por levar a melhor, já se estava a instalar confortável na sua poltrona há alguns dias. O verde floreava, os passarinhos chilreavam, as crianças cantavam, os senhores do xadrez contavam histórias, mas daquela mesa viam-se os raios de luz branca, pairavam nuvens cinzentas muito carregadas e quase a desabar, ferviam emoções a temperaturas altíssimas, contavam-se algumas lágrimas, uma ou outra pitada de depressão e três ou quatro peças de roupa manchadas com Cerelac.

Não me venhas com comiserações, ó sabe-tudo! É sacaninha, e não sacana ou pior, porque o amo demais: é tão verdade quanto não conseguir ter dez minutos saudáveis para mim desde que ele nasceu.
Mas não te deve custar nada, pois não? Ai, ele é tão lindo – acrescenta a-que-não-suporta-separações – eu não consigo viver sem os meus. E acho-os encantadores sempre. Nunca me aborreço com as suas palermices e não consigo estar mais do que duas horas sem os ver. A professora já sabe que lá para as 10 horas, sem falhar, eu estou a entrar na sala de aula só para dar um beijinho aos meus fofos e levar-lhes o lanchinho! Não resito, o que hei-de fazer? Não resisto!
Eu só posso ser a mais terrível das mães! - anuncia a-que-põe-tudo-em-causa. Provavelmente falhei logo quando fiz a Cibelle naquela noite do Festival. Eu devia era desistir, dá-la para adopção.
Se calhar, tadinha, até podia ter mais sorte, não era? - o mascarado ar de sonsa da Outra.
Mas o que se passou? - quer saber aquela-para-quem-o-cansaço-pode-fazer-ver-tudo-cinzento – se calhar isso é só a exaustão a falar, andamos todas muito cansadas, eu se não dormir no mínimo oito horas por noite não funciono.
Oito horas?, deves estar a brincar! Ai oito horas...se eu tivesse tempo para mim e oito horas para dormir... - um looooongo e pensativo suspiro.
O que se passou foi que a menina Cibelle mandou-se para o chão no meio da rua, em frente a casa, por não querer entrar. Esmurrou-se toda, tive de a levar às urgências!
Ai tadinha, as urgências são grandes focos de bactérias. Eu quando é assim vou logo ao Dr. Barbosa Amado seja a que horas for. Ele deu-me o número de telemóvel dele – o sorriso que se abre insinuoso chega a estalar um Tlim* no canino esquerdo quando lhe bate um raiozinho de sol. É muito amigo do meu marido – o remate final.
Que horas são? Já é meio-dia? Porra, não me apetecia nada ir buscar os gémeos à escolinha – confessa a-100-por-cento-culpa. Quer dizer, corrige rapidamente, apetecer apetecer até apetece...não me apetecia era ir agora, disfarça puxando um cigarro. Eu sei que não devia fumar, acrescenta mesmo sem alguém fazer o mínimo comentário, eu sei que estou a falhar como mãe, que não sou responsável. É apenas um cigarro, juro! Juro que não fumo mais, vou deitar o maço fora! (Fico só com aquele que tenho dentro da caixa de arranjar as unhas, pensa imediatamente).

Toca um telemóvel. A Cibelle enfiou um feijão no nariz.
Mas onde é que eu falhei? Como pode ela achar normal enfiar um feijão no nariz?!?
Outro toque doutro Nokia. O sacaninha acordou, vou a voar!

E assim, sem pagar a conta, seis mamãs ligeiramente histéricas correm para os seus filhos. Quando chegam a eles sentem aquela verdade incontornável: é bom e vale a pena! Choros, birras e feijões no nariz incluídos.

Texto original em http://www.mae.iol.pt/artigo.php?id=1060975&div_id=3670
Obrigada Catarina! :)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Romance Negro & Outras Histórias

Sim, sou fã incondicional de Rubem Fonseca e não resisto a enriquecer a minha biblioteca com as suas narrativas. Em Romance Negro & Outras Histórias, o escritor brasileiro apresenta-nos personagens intrigantes, misteriosas, decadentes e humorísticas, figuras densamente criadas com uma riqueza e complexidade psíquicas notáveis. Rio de Janeiro, a grande urbe onde (quase) tudo acontece. O malandro das ruas cariocas, a mulher que vive a vida solitária do vizinho pela janela, o pastor da Igreja de Jesus Salvador das Almas cujo trabalho de salvação decorre diariamente das 8h às 11 horas da manhã, fragmentos do diário secreto de Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski, o enfermeiro bandido que se apodera do livro de panegíricos do seu enfermo... e os meus favoritos: o vegetariano implacável que se deixa apaixonar pelo olhar sedutor de uma truta num aquário de marisqueira e o enigmático escritor que leva a uma convenção internacional de literatura o seu terrível segredo. São muitas as razões para conhecer este conjunto de contos de Fonseca que, como já havia acontecido em A Grande Arte, nos envolve no seu rodopio narrativo, nos surpreende e nos deixa com vontade de ter mais cem páginas para ler.

Um olhar pode mudar a vida de um homem? Não falo do olhar do poeta, que depois de contemplar uma urna grega pensou em mudar de vida. Refiro-me a transformações muito mais terríveis.

(…)

Decidi que não comeria a truta. Certamente saberiam fazer ali um suflê de espinafre.

Subitamente percebi que uma das trutas me olhava. Nadava de maneira mais elegante do que as outras e possuía um olhar meigo e inteligente. O olhar da truta deixou-me encantado.


“Olhar”, in Romance Negro & Outras Histórias, Rubem Fonseca