sexta-feira, 30 de maio de 2008
Maria Regateira ou Maria Ramantxada: a capeverdean tale
Título ainda não vislumbrado
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Palavras que leio hoje
- Não houve um só dia em que não me tenha apaixonado por ti. Em que não tenha pensado, em pleno voo, desmembrar-te à bicada. Apenas te quero dizer, Alexandre, que cheguei a entender a linguagem límpida dos pássaros, a ler o nosso futuro nas entranhas das vítimas, a vencer o medo, as serpentes por meio de encantamentos, a evocar as sombras, a escavar a cidade até aos nossos abismos profundos, a fazer do dia noite e da noite fazer dia.
(…)
Ficas assim, o suor escorrendo-te da fronte, os lábios estremecendo, as mãos aflitas sobre o peito – os olhos esbugalhados a perscrutarem no escuro os olhos felinos dalgum aéreo visitante.
Por vezes, não conseguimos viver com aquele que amamos – e por ele perderíamos tudo, incluindo a razão.
Vive-se sozinho, meio acordado, numa espécie de torpor. E no interior das pálpebras fazemos aparecer o rosto amado.
Gostaríamos que estivesse aqui, ao alcance das palavras que reinventamos para lhe sussurrar, ao alcance da mão e da boca, ao alcance dos sentidos e do desejo imediato.
Um ardor estranho sobre a pele e nos olhos impedem-me de continuar vivo. Morro sem pressa. Começo por cegar para conservar o teu sorriso – não o quero ver afastar-se para sempre, na velhice ou num esgar.”
“Do ardor da paixão à morte no poema”, Dispersos, Al Berto
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Ná, Ó Menino ná
Ná, Ó Menino ná
Ô rosto doce de odjo maguado,
Es bo cudado
Botal pa traz
Nhor Dés ta dano um bida de paz
De odjo maguado
bis
Ná, ô menino ná.
sombra rum fuji de li!
Ná, ô menino ná,
Dixa nha fidjo dormi
Sono de bida, sonho de amor
Ou graça, ou dor,
Es ê nós sorte...
Se Deus, más logo, mandano morte,
Quem que tem medo
Ta morrê cedo.
Toma nha ombro, encosta cabeça
Já n'dabo peto,
Amá "ragaz"
Ô espirito doce, ca bo tem pressa
Deta cu jeito
Dormi na paz
música popular cabo-verdiana cantada na sétima noite do nascimento duma criança.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Uma das minhas complicações mentais - mais horrível do que as palavras podem exprimir - é o medo da loucura, o qual, em si, já é loucura!"
Notas Íntimas, Fernando Pessoa
quarta-feira, 21 de maio de 2008
The Survival of Minhokinha
Caríssimos amigos e amigas,
a Minhokinha esteve em coma! Coma profundo! É verdade, um desses vírus quase mortais apoderou-se dela e fê-la prostrar-se numa maca ligada ao pii... piii duma máquina. Foram dias difíceis, não se via "luz num país perdido", não se via nada! Contudo, num desses golpes miraculosos da moderna medicina, Minhokinha foi resgatada e sobreviveu. Está ainda sob vigilância médica e ainda inspira alguns cuidados nas próximas horas, mas o pior já passou. Minhokinha acordou!
Aos que nunca deixaram de acreditar,
aos que nunca deixaram de amar,
cá fica um sorriso :)
e até muito em breve!
sexta-feira, 2 de maio de 2008
É já amanhã!!
Há muitos muitos anos fui apresentada a uma nova forma de pensar: Al-Qaerva. Primeiro resisti, claro está. Que não era certo carimbar este grito em todos os pontos da cidade, que não seria dessa forma que as mentes se iriam abrir, que o que talvez estivesse em risco fosse uma ou duas noites atrás das grades. Nada resultou, nem o charme mais elaborado. Al-Qaerva cresceu e hoje faz parte da sociedade portuguesa... ou pelo menos de uma parte significativa da sua camada cogitante. Cerca de seis anos depois, Minhokinha tem forçosamente de se render às evidências, concordar que quando o ideal e a perseverança se encontram os braços não podem baixar, inchar de orgulho e fazer uma grande vénia às actividades cívicas e lúdicas promovidas sob a sua alçada.
Al-Qaerva: Evita o Tráfico, Planta em Casa
http://al-qaerva.blogspot.com
E não se esqueçam:
Dia 3 de Maio – Marcha Global da Marijuana 2008
Lisboa: Encontro a partir das 14h00 no Jardim das Amoreiras (Mãe d'Água). Partida do Largo do Rato às 16h00, com destino ao Largo de Camões.
Porto: Concentração a partir das 15h00 na Praça do Marquês.
Destino: Praça da Liberdade
Coimbra: concentração a partir das 15h00 no Largo da Portagem com destino à Praça 8 de Maio.
A Muda: Final Chapter
Dá-se assim por terminada a história da Muda. The red curtain must close. Muito mais haverá para contar se preservarmos a capacidade de observação e, claro, a imaginação. Que voe um abraço muito especial à senhora que, sem saber, inspirou esta narrativa. Até breve!
A Polícia Judiciária imediatamente pôs a fotografia do Gustavinho a circular no país e até
Nos dias seguintes, todos os talk-shows falavam na bravura daquela mulher. Muda mas sem medo. Aquilo sim era um exemplo. E a capacidade de comunicação? Incontestável, Surpreendente, Nunca Vista! Os principais cronistas dedicaram-lhe os seus escritos; os locutores de rádio referiam-na constantemente entre louvores; os apresentadores de televisão não conseguiram ignorá-la e, quando viram o que a Muda trazia em share, a publicidade e a solicitação foram aumentando; vários espectadores ligaram para os programas de entretenimento a pedir a presença da senhora; notas de rodapé então nem se fala, menina. Portugal inteiro queria a Muda!
Entretanto, não sei bem como, as senhoras amigas da Muda começaram-se a organizar, a escrever cartazes e numa bela manhã abalaram todas para o Governo Civil de Braga. Queremos a Muda na TVI! Maior Participação da Muda na Vida Pública! Quem Fala Assim Não É Gago! Muda à Presidência! Enfim menina, pode imaginar as palavras de ordem. A cidade aderiu em peso! Em uníssono, Muda para aqui, Muda para ali, o singelo encontro entre as amigas da senhora transformou-se numa grandiosa manifestação nacional. Do Governo Civil alugaram umas camionetas e rumaram a Lisboa às apitadelas na auto-estrada, até deu na televisão. A Muda ia na carreira da frente, toda em proa qual Vasco da Gama em direcção às Índias. Na Assembleia da República o mesmo chinfrim! Muda Ao Poder! O Povo É Quem Mais Ordena e por aí fora.
Qual perdigueiro a farejar um rasto de carne, José Eduardo Moniz viu de imediato milhões de euros nesta manifestação popular. Prontamente a convidou para o programa do Goucha e as audiências triplicaram nessa manhã. Aplausos, muitos aplausos, infindáveis reportagens na ‘Maria’ e na ‘Mulher Moderna’, programas de televisão exclusivamente dedicados à sua vida… num instantinho a Muda passou a ser um fenómeno nacional e já com interesses declarados por parte da televisão espanhola. A tudo respondia com o seu sorriso aberto e um aceno à Lady-Di.
Depois de um mês inteiro a participar nos mais variados programas da TVI, relatando a vida de quem sabia e não sabia e mesmo partilhando anedotas picantes, veio a contratação da sua vida. Parece que o Moniz lá reconheceu que o povo não passa sem a Muda e, numa estratégia de marketing inédita, despediu o Júlio Magalhães e colocou a Muda na cadeira de pivot do telejornal todas as noites às 20h
De repente estremeci com o som metálico e irritante que saía do telemóvel do meu vizinho. Este, não estando de todo habituado a que o aparelho de facto tocasse, passou largos segundos a ignorá-lo. Levantei as sobrancelhas e apontei o seu bolso com o queixo. É o meu? É o meu? Ah, pois é… nem me lembro que tenho um destes. Emergência doméstica, que é como quem diz rotura de canos, impede-o de continuar a fitar o meu ar embasbacado. É a Ritinha, menina, tenho de ir. Diz que a cozinha está que parece uma piscina.
Enquanto o acompanhava à porta, o inquérito habitual: então quanto tempo fica desta vez? E quando é que casa, menina? Veja lá, olhe que não queira ficar para tia. Sorrindo amareladamente despedi-me e fiquei a vê-lo descer no elevador.